Fiagro deve facilitar acesso de pessoas físicas ao agronegócio

Expectativa do Ministério da Economia é de movimento semelhante ao de fundos imobiliários, que tiveram maior aporte após queda dos juros

O Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Agropecuárias) deve alavancar a participação de pessoas físicas em investimentos ligados ao agronegócio. A expectativa do governo federal é que o investimento atraia quem está em busca de maiores rendimentos e diversificação, com um efeito semelhante ao que ocorreu com os fundos imobiliários após a queda da taxa básica de juros a partir de 2019. Com 7,5 bilhões já emitidos, a previsão é de que esse valor alcance R$ 10 bilhões até o meio deste ano.

“Quando a gente fala de poupança popular, a gente está falando basicamente dos recursos de 200 milhões de brasileiros. Um pouco que seja de cada um já é uma massa expressiva de recursos que fica pulverizado, boa parte em poupança. Mas quando as taxas de juros voltarem a cair esses investidores vão buscar melhor rentabilidade e essa melhor rentabilidade pode estar associado a fundos do tipo Fiagro”, destaca o subsecretário de política agrícola do Ministério da Economia, Rogério Boueri, ao mencionar o aumento da procura por fundos imobiliários observada nos últimos anos.

“Essa abertura de captação da poupança popular é fundamental para essa estratégia de ter um funding privado para os grandes agricultores. E mesmo com esse ganho de rentabilidade que as famílias teriam ao aplicar no Fiagro, ainda vai ser um crédito barato [para o produtor] na outra ponta. Foi o que aconteceu dom os fundos imobiliários porque as pessoas começaram a ver oportunidade e o setor imobiliário é um setor forte no Brasil assim como o agro”, completa Boueri.

Ele explica que o Fiagro é parte da estratégia do Governo de reduzir a subvenção de crédito ao setor, concentrando esforços em pequenos produtores e atividades de baixo impacto ambiental financiadas pelo Plano ABC. “A gente quer que os grandes agricultores busquem cada vez mais o mercado para captar recursos. Só que a gente não pode fazer isso de uma vez. Para fazer esse movimento você precisa criar cada vez mais alternativas de financiamento provado para fazer esse movimento sem uma disrupção do sistema produtivo agropecuário. E dentro dessa estratégia uma das coisas que é fundamental é a pulverização dos investidores”, observa o subsecretário de política agrícola do Ministério da Economia.

De acordo com nota informativa divulgada pela pasta neste início de ano, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) havia registrado a criação 31 Fiagro’s até novembro do ano passado. Desses, 24 eram do tipo imobiliário, modalidade cujo investimento é aberto ao público em geral. Os demais fundos (baseados no investimento em participações e direitos creditórios) são restritos a investidores qualificados.

Segundo a superintendente de relacionamento da B3, Fabiana Perobelli, as semelhanças com os fundos imobiliários, aos quais o investidor pessoa física já está acostumado, também é um fator que facilitará a popularização do Fiagro.

“Quem está acostumado com fundo imobiliário vai ver muita semelhança no Fiagro. A diferença é que é um setor diferente e, obviamente, da mesma forma que existe sazonalidade de vacância de aluguel no mercado imobiliário, no agro tem a sazonalidade da produção agropecuária. E o gestor provavelmente vai buscar diferentes papéis então não vai ter só CRA de açúcar mas de café, de soja, porque aí ele terá um ano agrícola como um todo funcionando”, destaca Fabiana.

O sócio do Banco de Investimentos da XP, Pedro Freitas, conta que a alta recente dos juros tem feito o investidor privilegiar papéis de renda fixa, como debêntures e certificados de recebíveis. Contudo, ele ressalta que esse cenário não ofusca o potencial do Fiagro enquanto renda variável.

“É uma demanda realmente muito grande [por renda fixa]. Mas do lado do Fiagro, esses fundos de crédito acabam sendo um  veículo de bastante atratividade para os investidores. Com certeza é algo que vem crescendo e a gente aqui aposta que em pouco tempo ele vai conquistar boa parte do mercado e vai ter uma relevância grande”, conclui Freitas.

Fonte:Revista Globo Rural / Foto: Fernando Martinho