Em compromisso que não constava da agenda oficial divulgada pelo Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro recebeu nesta segunda-feira (4) o tenente-coronel reformado do Exército Sebastião Curió Rodrigues de Moura, 85, conhecido como “Major Curió”, um nome simbólico da repressão durante a ditadura militar (1964-1985). Ele já foi denunciado seis vezes pelo Ministério Público Federal por participação nos assassinatos e sequestros de guerrilheiros de esquerda na região do Araguaia nos anos 70. Curió participou ativamente do combate à Guerrilha do Araguaia (1972-1975), formada por militantes do PCdoB (Partido Comunista do Brasil).
Em 2009, em entrevista ao jornalista Leonêncio Nossa, que depois lançaria um livro sobre Curió, “Mata!” (Cia das Letras, 2012), o militar reconheceu e apresentou documentos que indicaram a execução de 41 militantes da esquerda quando eles já estavam presos e sem condições de reação. Um total de 67 militantes participou da guerrilha, que foi massacrada em sucessivas operações desencadeadas pelo Exército no sul do Pará e norte do atual Estado de Tocantins.
Fotos do encontro de Bolsonaro com Curió foram divulgadas em uma rede social por um dos filhos do militar. Ele escreveu: “Dia de dois amigos se encontrarem e dizer FORÇA”. Ao lado, postou a bandeira nacional. O militar aparece em uma cadeira de rodas. Bolsonaro sorri e posa para as fotos ao lado do visitante.
Curió e outros militares acusados pelos mesmos crimes recorrem à Lei da Anistia, de 1979, e travam desde 2012 uma batalha judicial para conseguir que não sejam processados e condenados. A Justiça já deu decisões favoráveis a Curió, por exemplo, determinando o trancamento de uma ação penal, mas o MPF segue recorrendo ao Judiciário.
Em dezembro de 2019, Curió foi denunciado em três ações. “No caso do assassinato e ocultação de cadáver de Lúcia Maria de Souza, conhecida como Sônia, também foram denunciados Lício Augusto Maciel e José Conegundes do Nascimento. Pela morte e ocultação do corpo de Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, Curió é acusado ao lado de João Lucena Leal, João Santa Cruz Sacramento, Celso Seixas Marques Ferreira e Pedro Correa dos Santos Cabral. No caso da morte de Dinaelza Soares Santana Coqueiro, a Maria Dina, a acusação recai apenas sobre Curió”, diz o MPF.
O MPF afirmou ainda que “consideradas as qualificadoras e agravantes dos crimes – por terem sido cometidos por motivo torpe, de emboscada, com emprego de tortura e abuso de poder, e contra vítimas que estavam sob proteção das autoridades, por exemplo -, as penas podem chegar a 33 anos de prisão para cada assassinato. A Força-Tarefa (FT) Araguaia, do MPF, também pediu à Justiça Federal que os acusados sejam obrigados a indenizar as famílias das vítimas e que percam as aposentadorias e condecorações recebidas durante a carreira. Requereu, ainda, a oitiva antecipada das testemunhas, por motivo de idade avançada”.
As informações são do UOL.