Gado purunã ganha projeto de disseminação no Paraná

Raça desenvolvida no estado é resultante de cruzamentos de charolês, aberdeen angus, caracu e canchim

Animal de grande porte, carne macia, abate precoce e adaptação a diferentes climas. Essas são algumas das características da raça bovina de corte que nasceu no Paraná e comemora cinco anos do seu reconhecimento oficial pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o purunã. Para celebrar a data, o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) lança o projeto Unidades Referência Purunã para disseminar a raça ainda mais, buscando ganhar espaço no mercado de carnes.

O projeto prevê a capacitação de técnicos e a seleção de produtores para criação de animais com a assessoria do IDR-Paraná. Em outubro, foi realizada a primeira etapa. Técnicos das regiões dos Campos Gerais e do Vale da Ribeira participaram de um treinamento para conhecer melhor as características da raça. Numa segunda etapa, esses mesmos técnicos serão capacitados para dar assistência a produtores escolhidos pela entidade, para receber touros da raça pura para reprodução.

O purunã é resultante de cruzamentos das raças charolês, aberdeen angus, caracu e canchim. Ao associar o melhor dessas quatro raças, os especialistas apontam que animais purunã são capazes de manter alto desempenho em diversas condições de relevo e de temperatura ambiente. Com isso, interessam aos mais variados perfis de criadores, do mais simples ao mais especializado, para uso em confinamento ou manejados em pastagem.

O produtor Olair Antonio Gonçalves de Lara trabalha exclusivamente com a raça desde 2007 e já possui mais de 60 cabeças em sua propriedade em Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba. Segundo ele, a qualidade do gado purunã vale o investimento e traz um ótimo retorno. “O abate precoce, a facilidade para se adaptar a qualquer clima e tipo de solo fazem com que a raça tenha mais rendimento”, afirma o pecuarista.

Origem do purunã

Os animais da raça paranaense foram desenvolvidos na fazenda modelo do IDR-Paraná que fica em Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais. Na propriedade, há cerca de 1.600 cabeças de gado, cuidadas com muito zelo. O auxiliar de ciência e tecnologia Sandro José Machado de Farias é um dos responsáveis por manter o bem-estar dos animais. Ele conta que a rotina de alimentar, limpar o lugar onde os animais ficam e até escovar os pelos é feita com muito carinho, seguindo os ensinamentos do pai, que é seu colega de trabalho na fazenda. “Eu adoro o que eu faço. Cuido muito bem dos meus fios. É assim que chamo todos eles. Mesmo que tenham seus nomes de registro, eu gosto de chamá-los de fio. E eles me atendem”, comenta Farias.

Outros pontos de destaque da raça purunã são a distribuição equilibrada de gordura e o elevado rendimento da carcaça, assim como a qualidade da carne, que tem excelente marmoreio, de acordo com os técnicos. O marmoreio é a gordura entremeada nas fibras, que dá maciez, suculência e sabor amanteigado à carne.

“É a única raça de bovino para corte criada no Brasil por um centro estadual de pesquisa. Suas características, alcançadas graças ao cruzamento de outras raças de qualidade, fazem com que o purunã ganhe cada vez mais adeptos”, afirma o pesquisador José Luís Moletta, que participou do desenvolvimento da raça

Para que a oficialização da raça fosse efetivada foi necessária a criação da Associação Brasileira do Purunã, que auxilia tanto na disseminação da raça quanto na organização dos produtores. Para o secretário da entidade, Erlon Pilati, os mais de 40 produtores associados atualmente estão satisfeitos com o retorno obtido. “O purunã é um patrimônio do Paraná e a pesquisa do estado foi muito feliz e satisfatória, e trouxe progresso para os produtores do país todo, inclusive para os pequenos e médios”, afirma Pilati.

De acordo com Luís Fernando Brondani, coordenador do programa de bovinocultura de corte do IDR-Paraná e responsável pelo projeto de fomento da raça, o purunã já está em quase todos os estados do Brasil, mas ainda pode ser mais explorado. “Após a capacitação desses técnicos, vamos escolher a dedo as propriedades para receber reprodutores e produzir bezerros mestiços que tenham alto valor agregado na hora da venda e, dessa forma, ampliar a oferta da carne nos mercados”,

Para quem entende do assunto, como o açougueiro Ivan Freitas, que trabalha no ramo há mais de vinte anos, a qualidade da carne foi comprovada. “É extremamente macia, suculenta, com bom acabamento de gordura. O purunã superou todas as expectativas. Foi a melhor carne que eu já trabalhei e já comi”, afirma.

Investimento em pesquisa

A ideia de desenvolver uma nova raça surgiu ainda no início da década de 1980, em Ponta Grossa, a partir de bons resultados obtidos em uma investigação que os pesquisadores do IDR-Paraná conduziam sobre a eficiência na produção de carne em cruzamentos alternados envolvendo charolês-caracu e aberdeen angus-canchim.

Foram quase quatro décadas de cruzamentos e seleções sucessivas e controladas até que fosse possível agregar os melhores atributos de cada uma das raças formadoras. Caracu e canchim transmitiram rusticidade, tolerância ao calor e resistência aos carrapatos. Já o charolês contribuiu para dar velocidade ao ganho de peso, grande rendimento de carcaça, elevado porcentual de carnes nobres e pequena capa de gordura.

O angus, por sua vez, deu precocidade, tamanho adulto moderado e temperamento dócil, além de alta qualidade de marmoreio na carne. A habilidade materna e a boa produção de leite pelas vacas, características importantes para o manejo dos rebanhos herdadas do caracu e do angus, são também atributos que se destacam nos animais purunã.

Todo o trabalho de desenvolvimento foi conduzido na Estação Experimental Fazenda Modelo, unidade de pesquisa do IDR-Paraná em Ponta Grossa, próxima à Serra do Purunã, homenageada em nome da raça.