Guerra não terá impacto na demanda, mas custo deve subir, avalia Embrapa sobre carne bovina

Elevação dos custos na cadeia produtiva da carne bovina brasileira deve fazer com que haja um aumento no processo inflacionário, diz análise

A guerra no Leste Europeu não deve ter forte impacto na demanda por proteínas brasileiras, já que a Rússia e a Ucrânia são compradores com pouca relevância comparados a outros países. A avaliação consta em boletim da Embrapa, que ressalta, que as importações dos dois países envolvidos no conflito representam no mercado global 1,9% de carne bovina, 2,6% da proteína de frango e 1,1% de suínos.

Por outro lado, a Embrapa destaca que a forte demanda chinesa e norte-americana deve manter o bom desempenho das exportações de carne bovina brasileira enquanto durar o conflito. Uma evidência disso foram os embarques do mês de março, que atingiram um volume recorde para o mês, de 169,41 mil toneladas, o que representou um avanço de 26,6% sobre o resultado obtido em igual mês de 2021, de 133,82 mil toneladas, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Entretanto, os russos são parceiros estratégicos como fornecedores de fertilizantes para a nossa produção. O principal insumo utilizado na agricultura é o fertilizante. Estima-se que cerca de 20% dos fertilizantes do complexo NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) importados anualmente pelo Brasil vêm da Rússia. A produção de bovinos de corte no Brasil é, substancialmente, feita em pastagens e que demandam práticas de adubação. O impacto do conflito no Leste Europeu será significativo nos fertilizantes, caso haja desabastecimento ou  aumento de preço dos principais produtos.

“O aumento dos preços das commodities certamente vai afetar o custo da produção de proteína animal, com maior impacto para aves e suínos, mas também para a bovinocultura de corte intensiva, que se utiliza da ração como fonte de nutrição dos animais”, ressalta o boletim da Embrapa.

A elevação dos custos de produção na cadeia produtiva da carne bovina brasileira deve fazer com que haja um aumento no processo inflacionário e uma pressão de repasse ao longo da cadeia de produção atingindo o consumidor final, que já se defronta com uma situação inflacionária no mercado doméstico. Mesmo antes da guerra, o cenário mais otimista para trajetória de queda no preço da carne era 2023.

“Em um cenário de retomada econômica lenta, no qual a recuperação de empregos tem ocorrido, mas com redução de renda da população empregada, pode-se esperar novas reduções no consumo per capita de carne, já bastante baixos. Todavia, é possível que essa queda seja amenizada pelo fato de ser um ano de eleição, que, historicamente, aquece o mercado”, ressalta o boletim da Embrapa.