Desde o fim de agosto e início de setembro, diversas praias da região Nordeste foram invadidas por manchas de óleo. De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), no total 72 municípios foram atingidos em todos os nove estados do Nordeste, entre eles a Bahia. Atualmente, um dos destinos turísticos mais procurados do estado, o povoado de Baixio, em Esplanada, foi um dos locais afetados.
O povoado de Baixio, conhecido pelas águas cristalinas das suas cinco lagoas, teve sua rotina quebrada no último final de semana com a chegada do indigesto problema. Sua comunidade, que vive, sobretudo, da pesca e do turismo, foi diretamente atingida pelo derramamento de petróleo. Em decreto assinado nesta segunda-feira (14), o Governo do Estado, solicitou a liberação de recursos para seis municípios do estado que foram atingidos por manchas de óleo no litoral, entre os quais, Esplanada.
A empresária, Djanete Magalhaes de Souza, mora na localidade há 24 anos, sendo que há 15, é proprietária da Pousada Espaço Litoral. De acordo com Nete, como é conhecida a empresária, no último final de semana os primeiros reflexos já foram sentidos: “Nós, donos de pousada e de barraca, já pudemos sentir um esvaziamento do local. Todo mundo estava com medo. Foi algo generalizado, onde ninguém quis vir pro lado de cá. Tivemos um feriado e o movimento foi fraco. Pessoas que vieram para ficar quatro dias, decidiram ir embora antes do tempo pois estavam sujando os pés com o betume. Com certeza teremos prejuízo. Não tem como não ter. As pessoas tomavam banho e saiam sujas”.
“Estamos fazendo a limpeza já. Na área das barracas a areia ainda está limpa. Agora, descendo do Rio do Boi para baixo está cheio de óleo. Já encontramos, inclusive, algumas tartarugas mortas”, disse um funcionário do projeto Tamar, que preferiu não se identificar. Em tempo: o Tamar é reconhecido internacionalmente como uma das mais bem-sucedidas experiências de conservação marinha.
O biólogo e mestre em Ecologia pela UFBA, doutor em ciências biológicas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e Pós doutor pelo INPA, Alberto Silva Neto, salienta que, além dela matar diretamente os bichos, a substancia incide sob a superfície da água, impedindo que a luz do sol penetre e atinja as camadas de água que estão mais abaixo. “Nas camadas mais profundas existem os seres que precisam de luz para produzir energia, no caso, os fotossintetizantes. A consequência da quebra dessa cadeia trófica é uma estagnação de produção primária lá em baixo o que acaba gerando toda uma morte em cadeia desses seres. É um problema muito grave”.
O impacto causado pelo problema nas tartarugas do projeto Tamar, é pontuado pelo biólogo: “Podemos tomar como exemplo o projeto Tamar, onde ocorrem quase que diariamente o nascimento de diversas tartarugas. Esses animais precisam ser liberados ao mar. Só que esse filhote de tartaruga tem que ser liberado na praia, pois existe uma coisa chamada print. Quando essa tartaruga sai da areia e olha para o mar, ela registra aquilo para o resto da vida . Pode passar 20 anos, que ela volta para esse mesmo local na fase adulta para nidificar os ovos. Esses bichos não podem ser liberados, por conta da contaminação e podem acabar morrendo. Vai se perder milhares de filhotes”.
“A mancha de óleo é um grande desastre ambiental, talvez o maior em proporções do Brasil. Nunca teve na história do país um desastre ambiental tão grande como esse. Vai demorar muito tempo para limpar isso avaliar quais foram os reais danos ambientais e ecológicos que ocorreram ali”, conclui Silva Neto.
A reportagem do Bahia Sem Fronteiras (BSF) entrou em contato com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Esplanada. Em nota, órgão explicou que a chegada dos resíduos petrolíferos tem impactado a comunidade de Baixio de diversas formas. “Manchas de óleo já atingiram pontos importantes utilizados para a pesca pelos moradores da região, o que gera grande impacto social. A Barra do Rio Inhambupe, por exemplo, já foi atingida. Ela é fonte de renda de muitas famílias da região, que tiram seu sustento dos crustáceos, mariscos e peixes provenientes daquele ecossistema. Quanto aos impactos ambientais, ainda são inestimáveis”, disse o comunicado enviado ao BSF.
Veja nota na íntegra:
“A chegada dos resíduos petrolíferos tem impactado a comunidade de Baixio de diversas formas. A princípio o aparecimento das manchas nas áreas de banho tem causado a diminuição na procura das praias pelos turistas, o que, por conseguinte, afeta diretamente a economia local. Já é perceptível a redução do movimento em restaurantes e pousadas na região o que influencia nos rendimentos tanto dos empresários de maior porte quanto dos informais que atuam na venda de artesanatos, utensílios e alimentos para os visitantes da comunidade.
Manchas de óleo já atingiram pontos importantes utilizados para a pesca pelos moradores da região, o que gera grande impacto social. A Barra do Rio Inhambupe, por exemplo, já foi atingida. Ela é fonte de renda de muitas famílias da região, que tiram seu sustento dos crustáceos, mariscos e peixes provenientes daquele ecossistema.
Quanto aos impactos ambientais, ainda são inestimáveis. Novos volumes do óleo ainda chegam diariamente ao litoral e mesmo com o incansável trabalho das equipes de mitigação dos danos e todo o apoio que está sendo prestado pelos órgãos públicos e pela população, tem sido difícil conter os danos resultantes da tragédia. A princípio o volume de óleo era bem pequeno se comparado com outras praias atingidas, entretanto desde o último domingo, o volume aumentou consideravelmente e atingiu estuários da região. Um dos locais atingidos é a Foz do Rio Inhambupe, que é “berço” de diversas espécies marinhas. Existe altíssimo risco de ameaça à fauna local. Além do impacto visual, é grande o risco de contaminação de animais, como por exemplo, a tartaruga marinha. Até o momento, na praia de baixio, não foi encontrado nenhum animal morto devido ao contato com o óleo, entretanto isso já ocorreu em outros locais afetados, o que nos coloca em estado de alerta.
A Prefeitura Municipal de Esplanada por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável acompanhado a atividade de descontaminação das áreas afetadas no Município de Esplanada e fornecido a estrutura necessária para a execução do serviço. Além disso, está sendo montada uma equipe de voluntários que se unirá à frente de serviço para dar maior celeridade e efetividade nas ações. Os interessados em participar do corpo de voluntários ou contribuir com materiais e/ou equipamentos, devem procurar a SEMMADS para serem instruídos de como proceder”.