Por Tiago Queiróz*
“Hoje eu tô feliz! (Minha gente!)/ Hoje eu tô feliz matei o presidente”. Assim cantou Gabriel Pensador. O ano era 1993. Em seu álbum de estreia o rapper carioca chamou para si os holofotes de todo o Brasil. A música Tô Feliz (Matei O Presidente) fazia menção a um hipotético assassinato do presidente Fernando Collor de Mello, que para evitar o processo de impeachment, renunciou ao cargo, em 1992, após escândalos de corrupção. Março de 2020. Jair Messias Bolsonaro, eleito em 2018 com 55,54% dos válidos, amarga pífios índices de popularidade pouco mais de um ano depois de subir a rampa. Sua condução desastrosa naquela que é apontada por muitos como maior desafio de uma geração, numa pandemia que tem vestido de luto os quatro cantos do planeta, suscita (mais do que nunca) o desejo estampado nos versos do “Pensador”: matar o presidente.
“Todo mundo bateu palma quando o corpo caiu / Eu acabava de matar o Presidente do Brasil”.
“Violência”, “falta de respeito”, “falta de Jesus”, alegariam hipocritamente os mesmos que há dois anos pormenorizaram o assassinato da vereadora fluminense, Marielle Franco. A ideia choca, sem dúvidas. Mas não se engane, não faltariam candidatos. A Medida Provisória , chamada de “MP da Morte”(sugestivo), assinada na calada da noite e depois revogada por conta da péssima repercussão, com certeza faria qualquer pai de família não pensar duas vezes em apertar o gatilho. A MP incluía a possibilidade de suspensão do contrato de trabalho por quatro meses, onde o trabalhador ficaria sem os seus proventos. Em miúdos: o governo jogaria todo o ônus da crise econômica nas costas do trabalhador. Contudo, o caixão somente seria fechado dois dias depois com o tragicômico discurso em rede racional.
Ele ganhou a eleição e se esqueceu do povão / E uma coisa que eu não admito é traição / Prometeu, prometeu, prometeu e não cumpriu / Então eu fuzilei, vá pra puta que o pariu
Em pronunciamento concedido na última quarta-feira (25), em horário nobre, o “capitão” alcançou o clímax do absurdo. Em pouco mais de cinco minutos destilou todo o seu repertorio de ignorância, insensatez e maldade. Atribuiu ao Covid-19, que já contaminou quase meio milhão e matou aproximadamente 23 mil pessoas no mundo, o status de “gripezinha”. Não satisfeito, sedento por saciar a ganância de empresários, e à sua própria sociopatia, Bolsonaro sugeriu que os brasileiros contrariassem as recomendações da Organização Mundial de Saúde, e voltassem à normalidade indo de encontro direto com a morte. O slogan da transloucada campanha encampada pelo presidente, através do “gabinete do ódio”, e seus também psicopatas, filhinhos, foi batizado de “O Brasil não pode parar”. Essa posição vem sendo diariamente defendida por “Bolsonazi” ou “Bolsonero”, como vem sendo carinhosamente chamada.
E em coro elogiamos nosso “atleta” no caixão: Bonita camisa, Capitão / Bonita camisa, Capitão / Bonita camisa, Capitão / Você nessa roupa de madeira tá bonitinho!)
O rufar das panelas que ecoa dos quatro cantos do país, desde os bairros da alta burguesia que, apoiaram o golpe, festejaram e ajudaram a eleger o facínora, até os bairros dito populares, esses relegados ao papel de meros coadjuvantes num (des) governo pautado pelos interesses da elite empresarial brasileira, atesta o desejo que ocupa grande parte dos corações e mentes da nação: matar a o presidente.
O Brasil foi campeão? Tá todo mundo contente! Não amigão. É que eu matei o presidente!
*Tiago Queiróz é jornalista, editor-chefe do portal comunitário Nordesteusou. Escreve também nos sites Hora da Bahia e Bahia Sem Fronteiras.