Por Alex Mine*
Passadas as festividades de réveillon, a comunidade baiana ficou estarrecida ao tomar conhecimento de que a tradicional Noite da Beleza Negra poderia não acontecer em 2020, por falta de recursos. Inicialmente feito pela produtora do evento, o alerta foi posteriormente confirmado pelo presidente do bloco afro Ilê Aiyê, Antonio Carlos dos Santos, o Vovô.
Reconhecendo a grande importância do concurso para a elevação da autoestima da população negra e a divulgação da cultura afro-baiana no Brasil e no mundo, o vice-prefeito Bruno Reis garantiu o apoio necessário à realização da 41ª edição da Noite da Beleza Negra, assim como para o desfile do Ilê na folia momesca. Enquanto isso, vale ressaltar, o governo petista deixou o “Mais Belo dos Belos” de fora do Carnaval Ouro Negro, o que possivelmente inviabilizaria financeiramente a participação do Ilê na maior festa de rua do planeta.
Coração da Liberdade e local que abriga a sede do Ilê, o Curuzu também passa por obras de requalificação, capitaneadas pela Prefeitura, que destinou quase R$ 7 milhões para realizar as melhorias na região. As intervenções vêm sendo acompanhadas de perto pelo vice-prefeito Bruno Reis, que é secretário municipal de Infraestrutura (Seinfra). Portanto, se a militância petista quisesse fazer justiça, no lugar de uma política rasa, vazia e ultrapassada, certamente, aplaudiria Bruno Reis, na Noite da Beleza Negra.
No evento, ele foi o representante da gestão que tem demonstrado respeito às entidades e símbolos da cultura baiana, independentemente da orientação político-partidária de seus representantes. A mesma maturidade democrática, entretanto, não se observou da banda opositora, que preferiu dar uma contribuição negativa à festa, proporcionando um momento de rara fealdade à Noite da Beleza Negra. As vaias foram um contrassenso. Uma atitude vergonhosa, quase tão constrangedora quanto a sanha de emplacar o vídeo com o momento da falta de civilidade em diversos portais de notícias. Não fosse o brilho estonteante de Gleiciele Teixeira, a nova Deusa do Ébano, tal comportamento questionável teria ofuscado o evento, em ano eleitoral.
Parece que, diante da letargia do governo ao qual tais militantes pagam prendas e fazem reverências, só restava a eles o recurso bestial do urro desesperado, como se estivessem vaiando a si próprios, pela inoperância e incompetência, no caso em questão. Além de ter sido muito bem recepcionado no Ilê Aiyê, especialmente pelo cordial e carismático Vovô, Bruno deu um tapa com luva de pelica em uma ala intransigente da esquerda. Ele demonstrou coragem ao aceitar o convite para ser jurado em um evento tradicionalmente frequentado por opositores à gestão de ACM Neto, assim como provou ter habilidade e disposição para dialogar com correntes políticas diferentes das dele.
Saber respeitar outras vertentes ideológicas e ter capacidade de governar para todos são condições imprescindíveis para qualquer um que esboce a mínima vontade de administrar uma cidade tão complexa e diversa como Salvador. A nossa tradição democrática não aceita retrocessos nem exige menos do que isso.
*Alex Mine é vereador e empresário do ramo musical