Por Marta Rodrigues – Vereadora de Salvador pelo PT
Aprovado pela Câmara de Salvador em 2019, o Dia Municipal em Homenagem dos Mártires do Búzios – comemorado todo 8 de novembro – representa um marco para a nosso povo. Trata-se de reverenciar e relembrar a história de quatro corajosos homens negros escravizados que conseguiram movimentar toda a sociedade soteropolitana – entre negros e brancos – a se insurgir contra as desigualdades sociais e contra a escravidão, motivados pelos ideais da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
Embora as armas não tenham sido disparadas, as autoridades tremeram de medo com a ‘audácia’ e coragem de Lucas Dantas de Amorim Torres, Manuel Faustino dos Santos Lira, Luís Gonzaga das Virgens e João de Deus Nascimento .
Estes quatro lideraram mulheres e homens libertos e escravizados, e até mesmo parte da elite liberal baiana, a participarem da Revolta dos Búzios, uma das maiores que o Estado já viu: foi no dia 12 agosto de 1798 que a população acordou com 12 boletins afixados em locais públicos e de grande circulação, conclamando todos para se juntarem na luta por uma sociedade mais justa e menos desigual.
Com o exército brasileiro atônito e com as pressões do príncipe Dom João para coibir a revolta, os nossos heróis acabaram sendo presos. Condenados à morte, saíram da prisão no porão da atual Câmara de Vereadores e foram levados até à Praça da Piedade, onde foram decapitados e esquartejados no dia 8 de novembro de 1799. Partes dos corpos deles foram expostos em bairros da cidade como uma forma de intimidar àqueles que quisessem dar continuidade à revolução.
Esta significativa data tornou-se Dia Municipal após aprovação de um projeto de minha autoria na Casa. Comemoramos o fato, ano passado, com uma sessão especial no legislativo municipal que reuniu membros do movimento negro, setores da sociedade civil, políticos e personalidades.
No entanto, para além desse momento importante para Salvador, fomos pegos de surpresa, durante a sessão especial, com um componente a mais para nossa alegria: o alvará de soltura do ex-presidente Lula.
Coincidência – ou não, o nosso ex-presidente, assim como os mártires, tem em sua trajetória de vida a luta por esses mesmos ideais. Uma luta incessante, que, mesmo ao 74 anos, permanece firme e forte.
Para quem esteve presente na sessão, ainda é muito vívida a emoção em presenciar ao mesmo tempo momentos tão importantes. Enquanto comemorávamos, a notícia da soltura invadiu o plenário com gritos de Lula Livre, tornando o dia mais acalorado e festivo.
Assim como os mártires dos Búzios, a história de Lula dispensa explicações: todos eles foram injustiçados e condenados por uma elite que tenta oprimir e escravizar o povo negro e pobre deste país. No caso de Lula, ele saiu vivo da prisão para contar a história e combater os retrocessos contra o povo brasileiro impostos pelo governo Bolsonaro.
Agora, cabe a nós, defensores da democracia, continuarmos nosso grito nas ruas para que sejam retiradas as injustas condenações impetradas ao ex-presidente.
Apesar das dificuldades de 2019, entramos neste novo ano com a sensação de que a batalha continua e que a vitória é certa quando se almeja o bem estar e a justiça social. A lembrança do dia 8 de novembro de 2019 vai ficar marcada na minha memória e na de muita gente, mas a mensagem que quero deixar aqui, com esse artigo é direta e objetiva.
Tanto os mártires quanto o ex-presidente nos deixam o mesmo legado: nunca desistir de nossos ideais, nunca desistir da democracia, da liberdade e da luta por igualdade. Permaneceremos vigilantes e vamos vencer o fascismo. Sigamos em frente!