[Opinião] Os 100 dias de Caetano 4: o descompasso de um governo que começou devendo

Por Anderson Santos*

Dizia Franklin D. Roosevelt, em meio à Grande Depressão, que “nos primeiros 100 dias, lançaremos as bases para a recuperação da nação”. Décadas depois, Fernando Henrique Cardoso resumiu com precisão: “O início do governo é o momento de maior força política. É quando se pode ousar mais”. Outro presidente também foi direto ao ponto: “Os primeiros 100 dias são fundamentais para demonstrar a que veio um governo”.

Às vésperas de completar esse marco simbólico, o governo Luiz Caetano (PT), em sua quarta passagem pela Prefeitura de Camaçari, não demonstra nem ousadia, nem força, nem direção. O que se vê é um governo que começa em marcha lenta, com promessas abandonadas, falta de planejamento e sinais preocupantes de desconexão com sua base social e política.

O gás de outrora, a articulação política vibrante e a capacidade de mobilização que marcaram os mandatos anteriores de Caetano não reapareceram. Em vez disso, a gestão atual se mostra apática, desorganizada e distante daquilo que foi prometido nas urnas.

A narrativa mentirosa da “herança maldita” deixada por Antonio Elinaldo (União Brasil) já não convence como desculpa. Os dados hoje são públicos, digitalizados, transparentes – e não há maquiagem possível para justificar o que ainda não foi feito. Desde novembro, com a eleição definida, o prefeito teve tempo suficiente para planejar e montar sua equipe, mas optou por repetir velhas práticas políticas com roupagens já desgastadas.

E por falar em equipe, talvez esteja aí um dos erros mais graves da gestão até aqui. A prática de prometer uma coisa e fazer outra virou traço de estilo de Caetano. Na campanha de 2024, o discurso era claro: os quadros da militância seriam priorizados, e não haveria espaço para “forasteiros”. Mas, tão logo saiu o resultado das urnas, o discurso foi abandonado.

Nomeações de pessoas de fora de Camaçari e alheias ao grupo histórico petista se multiplicaram. Para os militantes do time vermelho, que carregaram a campanha nas costas, restaram cargos de menor expressão, salários aquém das expectativas e, em muitos casos, nem isso. Pior: ver pessoas que outrora compunham o “time azul” serem agraciadas com postos de destaque tem sido sentido como verdadeira traição. A sensação é de abandono e desvalorização.

Esse comportamento político tem gerado revolta até entre os mais fiéis aliados. Comparações com o ex-prefeito Elinaldo se tornaram inevitáveis. O principal adversário político de Caetano, o ex-prefeito Elinaldo, sempre manteve firme a palavra empenhada com sua base de apoio. Valorizava quem estava ao seu lado, alocava com inteligência os quadros disponíveis e oferecia respaldo político e financeiro àqueles que o ajudaram a governar. Havia, ao menos, um senso de justiça e reconhecimento – algo que falta, e muito, no atual governo.

Na saúde, a crise é escancarada. Conflitos entre a secretária indicada pelo governador Jerônimo e a número dois da pasta, pessoa de confiança direta de Caetano, criaram um ambiente de paralisia. O caos na atenção básica está escancarado: faltam médicos, medicamentos e estrutura. A população, que esperava uma reação imediata, foi ignorada, está amargando em filas nas portas dos postos de saúde. A gestão falhou até mesmo em replicar iniciativas que já haviam funcionado no passado, como os mutirões de consultas e exames.

O setor de transportes também patina. A STT, responsável por implementar o sistema emergencial de ônibus, enfrenta dificuldades operacionais, mesmo com os R$ 40 milhões de subsídio aprovados pelo Legislativo. A tarifa, que deveria ser reduzida, permanece alta – e a promessa de “tarifa zero” caiu no esquecimento. Enquanto isso, o projeto dos ônibus elétricos, anunciado com entusiasmo durante a campanha, segue sem cronograma, estudo técnico ou qualquer informação clara à população.

Se os primeiros 100 dias costumam ser a assinatura de um governo, Caetano 4 começa rabiscando um esboço instável, com traços de desorganização, vaidade política e distanciamento das necessidades reais do povo. O tempo de culpar o passado passou. O presente exige ação. E o futuro, com esse começo, constata o que já dizíamos, Caetano está fora de compasso com a moderna administração publicas e seu jeito de fazer política caducou.

*Anderson Santos, presidente do PDT de Camaçari