[Opinião] “Quem é que vai pagar por isso?”

Por Tiago Queiróz*

Nesta quinta-feira (21), Juristas, entidades da sociedade civil e partidos de oposição, incluindo o PT, entregarão ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, mais um pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. O documento vai se juntar a 26 pedidos, que versam sobre o mesmo teor, já protocolados na Casa. Maia, por sua vez, faz vistas grossas e não tem interesse em levar adiante os processos de impedimento. As constantes denúncias de corrupção, a maioria envolvendo a ele e seus três filhos, e as dezenas de crimes de responsabilidade já cometidos por Bolsonaro, sobretudo no período de pandemia, em nada sensibilizam o deputado carioca, que inclusive vem servindo de conselheiro ao mandatário da nação. A barganha e negociatas por cargos emendas, além da politicagem rasteira se colocam à frente do interesse do povo.

Até a presente data aproximadamente 19 mil brasileiros já perderam a vida vítimas da Coronavírus e da ingerência do Governo Federal. São mais de 294 mil casos em todo país. Em face às centenas de corpos enterrados diariamente, do Iapoque ao Chuí, sem velas e sem flores, o presidente segue indiferente. No dia em que o país vestia o luto por alcançar a indigesta marca de 10 mil óbitos, o presidente sorria faceiro em animado passeio de jet-sky. Na última terça-feira (19), ao atingirmos o expressivo número de 1.179 mortes em 24 horas, o “Capitão Corona”, como foi batizado, contava piadas fazendo alusão entre a cloroquina e a tubaína. Somado a isso estão as suas irresponsáveis declarações contrárias ao isolamento social que vão de encontro ao que recomenda a Organização Mundial de Saúde. O desprezo à ciência, aliás, é uma das sua marcas. Durante uma pandemia que já atingiu quase 5 milhões de pessoas e matou outras 328 mil, o país segue sem um plano efetivo de enfrentamento. Foram dois ministros da Saúde em menos de um mês, sendo que ambos tiveram suas saídas motivadas pela tentativa de interferência do presidente sobre seus trabalhos. Interferência política, aliás, é praxe dentro do seu governo autoritário, que o diga a Polícia Federal.

Contudo, em paralelo a tudo isso acima narrado, o presidente da Câmara, segue impávido, com cara de paisagem e sem qualquer reação que demonstre que dará prosseguimento aos inúmeros apelos e pedidos de impeachment. Ele [Maia] inclusive já foi alvo do presidente e dos seus apoiadores, que toda semana se reúnem na porta do Planalto pedindo fechamento do Congresso do Supremo Tribunal Federal e o fim do regime democrático. A resposta? O silencio. “Quem cala, consente”, diz o velho ditado. Enquanto isso, a cada corpo que cai, uma pergunta fica no ar: “Quem é que vai pagar por isso?”

*Tiago Queiróz é jornalista.

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