Até este sábado (2), o projeto Palco Aberto vem dando visibilidade a diversos artistas de comunidades de Salvador, alunos das Escolas Criativas Boca de Brasa. Na sexta-feira (1º),foi a vez da apreciação gratuita das apresentações artísticas e culturais da Escola Criativa Boca de Brasa – Polo Criativo Cidade Baixa, no Centro Cultural Sesi Casa Branca, Caminho de Areia, no bairro da Ribeira.
O local foi totalmente produzido para a realização do evento pelos próprios alunos da Escola Criativa, e contou com duas exposições de artes visuais logo na entrada intituladas Terra, Céu e Arte: Orixás Reimaginados na Reciclagem. No palco, a abertura ficou por conta do rapper Dicerqueira, que movimentou a plateia com um rap animado e letras marcantes.
Ao todo, foram apresentados 15 trabalhos de participantes do projeto na localidade. As apresentações são resultado de oficinas e trilhas formativas em linguagens artísticas como teatro, dança, música, poesia, e audiovisual; em técnicas do espetáculo e em gestão de espaços culturais, por meio da formação em produção cultural. O projeto Palco Aberto é realizado pela Fundação Gregório de Mattos (FGM), em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Emprego e Renda (Semdec).
O presidente da FGM, Fernando Guerreiro, que apreciou as apresentações, destacou a importância da iniciativa. “Eu digo sempre que os espaços de cultura são espaços de convivência, são espaços de política, de agrupamento, discussão de ideia, de criação e é muito importante a existência deles para possibilitar que os artistas se reúnam. Uma das principais funções do Boca de Brasa é justamente criar esse espaço livre para que as pessoas possam exercitar a sua cidadania e a sua arte. A gente está lançando uma semente para que isso aqui vire realmente um grande polo criativo da Cidade Baixa, de Salvador, para que projetos apareçam e se desenvolvam”, afirmou.
Para o diretor de Patrimônio e Equipamentos Culturais da FGM, Chicco Assis, a noite foi o ponto alto das atividades, mas não de encerramento. “Hoje é um marco de um novo momento que se inicia de fortalecimento das iniciativas, de toda essa produção que acontece de maneira potente. Teremos a seleção das dez iniciativas que passarão pela etapa de mentoria e que serão premiadas com o prêmio Eu sou Boca de Brasa, depois encerramos o ano com o Festival Boca de Brasa e, na próxima semana, já lançaremos o edital Polos Criativos Boca de Brasa para o ano seguinte”, informou.
Assis ainda agradeceu pela parceria com a Semdec, com o Sesi, que disponibilizou o espaço para a realização do evento, e ao Instituto Aliança, que contribuiu para a construção e monitoramento do edital. “Acreditamos que esses polos já são potenciais produtores de arte e de cultura e de economia criativa. Então, o que estamos fazendo é potencializando o que já acontece”, acrescentou.
A Semdec atuou, principalmente, no apoio à economia criativa, impulsionando a divulgação de trabalhos artísticos que já são realizados na região. “É um imenso prazer estar aqui hoje, prestigiar cada trabalho artístico desenvolvido e participar desse projeto em conjunto, entendendo, assim como estou vendo nas camisas e nas falas, que a arte dá trabalho. O objetivo é esse mesmo, a gente entende que a melhor política pública é aquela que a gente potencializa o que já existe nos territórios. Então o objetivo desse projeto é trazer foco, dar luz ao que já é potência dentro da comunidade”, frisou Vinícius Mariano, diretor do Salvador Tech, plataforma desenvolvida pela Semdec.
Produções – Uma das produções que atraíram olhares no espaço do Palco Aberto foram as pinturas de orixás em telhas, promovendo ao mesmo tempo a arte e o reaproveitamento de resíduos. “Eu estou muito feliz, porque esse é o mês do meu aniversário, então eu estou começando o mês ganhando esse presente maravilhoso, vendo as minhas obras expostas e os meus esforços sendo divulgados. Então, eu estou superfeliz e agradecido à FGM, ao Sesi e a todos os presentes. Desde 2002, eu já trabalho com o grafite, pintura em tela e também sou desenhista e agora estou com essa proposta da pintura em telha”, explicou Jailson dos Santos Dias, conhecido como Jeck Samus, artista responsável pelas pinturas e integrante do Dendê Coletivo Cultural, um dos frutos do Boca de Brasa para fomentar a cultura na região.
Maicon Douglas, estudante de gestão de espaços culturais e ator pelo Boca de Brasa, fez uma intervenção artística, levando o público a refletir sobre os sentimentos e o existir. “Para mim, foi uma experiência nova, deu um pouco de nervosismo, mas sempre sentindo aquele movimento de Sankofa de que essa só é uma porta para um novo começo. Acredito que vários projetos ainda estão para acontecer”, disse.
A atriz Tânia Toko, que interpretou Neuzão no filme O Paí Ó, também prestigiou o evento. “Eu estou muito feliz por estar aqui, pois vim assistir à apresentação da minha filha, Suélen Maria, que fez o curso. É muito importante a existência de um polo desse em um espaço tão bonito e equipamento tão bacana para as pessoas da Cidade Baixa que queiram investir e produzir arte. Acho fantástica essa iniciativa da Prefeitura”.
Valéria – O Palco Aberto Boca de Brasa já foi realizado na Unidade Centro, na quarta-feira (30), no Teatro Gregório de Mattos (TGM) e na Unidade Subúrbio/Ilhas, na quinta-feira (31), no Subúrbio 360, em Coutos. A programação artística e cultural gratuita tem continuidade neste sábado (2), a partir das 14h, no Teatro Boca de Brasa – CEU de Valéria, que irá sediar a programação da Escola Criativa Boca de Brasa do bairro, com performances poéticas e produções gastronômicas. O público vai conferir muita música com o hip hop de DFive e suas composições autorais, Sérgio Login e sua banda de pagode Groove de Rua, e a cantora e compositora do bairro Maíra Ísis.
As apresentações de dança acontecem com os coletivos Vênus Imperials e Omendes – este último grupo tem refinado o pagode “quebradeira” da favela. Também haverá a performance cênica musical “A coisa vai ficar Preta”, da Cia de Teatro Já é, a participação especial dos artistas e professores da Escola, como a atriz e coordenadora artística Valdinéia Soriano, os atores Leno Sacramento e Heraldo de Deus.
Funcionamento – Os Polos Criativos Boca de Brasa foram criados a partir de um edital desenvolvido pela Prefeitura de Salvador, por meio da FGM em parceria com a Semdec, voltado a Organizações da Sociedade Civil (OSCs). Foram selecionadas cinco propostas, que contemplam toda a extensão das regiões administradas pelas Prefeituras-Bairro de Cajazeiras, Centro-Brotas, Cidade Baixa, Subúrbio-Ilhas e Valéria. Os projetos desenvolveram ações formativas no âmbito das Escolas Criativas Boca de Brasa, que promovem, até dezembro deste ano, a seleção, formação, certificação e difusão de iniciativas culturais e criativas nos seus respectivos territórios.
A curadoria da programação de cada edição do Palco Aberto é de responsabilidade da Organização da Sociedade Civil. No Polo Centro, a gestão é da Associação Sociocultural Nubas; no Polo Cidade Baixa, é a Associação Conexões Criativas; o Polo Subúrbio é gerenciado pela Pontos Diversos – Associação para Promoção da Diversidade Sociocultural e Ambiental); e Polo Valéria tem a gestão do Instituto Ceafro (Iceafro).
Prêmio Eu sou Boca de Brasa – A próxima etapa dos Polos Criativos Boca de Brasa é o processo seletivo para Bolsa-estímulo a Propostas Artísticas e Culturais. As inscrições, encerradas no último dia 30, vão selecionar dez iniciativas de participantes das Escolas Criativas, que serão contempladas com o valor de R$10 mil e 16h de mentoria para aperfeiçoamento das propostas apresentadas.