Peste suína africana: entenda o caso na Alemanha e os reflexos no Brasil

Com embargos à carne suína alemã por parte de grandes compradores, como a China, produtores brasileiros vislumbram possíveis aumentos nas exportações

Um javali selvagem foi encontrado morto no leste da Alemanha, na semana passada, a poucos quilômetros da fronteira com a Polônia. Autoridades sanitárias desconfiaram que o animal poderia ter morrido de peste suína africana, já que a doença está presente em países do leste europeu desde 2014. A confirmação veio na quinta-feira, 10, e deixou o mundo em alerta.

A Alemanha é o maior produtor de carne suína da União Europeia e responde por 14% das exportações para o mercado chinês, maior consumidor mundial da proteína. O temor é que a peste possa se espalhar e dizimar o plantel local, como aconteceu anos antes na China. Só em 2019, o país asiático perdeu 40% dos seus animais por conta da doença.

Os preços do suíno — e até do milho, insumo importante da criação — já foram influenciados pela notícia, reagindo com alta. “Sem a Alemanha no mercado, provavelmente os preços que já estavam pressionados sustentados pelos próximos cinco meses, até a situação [na Alemanha] se regularizar”, afirmou o analista Yago Travagini, da Agrifatto. “Já vimos, nos Estados Unidos, as cotações baterem o limite de alta duas vezes seguidas”, contou.

Embargos

Apesar de não haver indicativo de que a doença tenha atingido unidades produtoras da Alemanha, países compradores e/ou produtores de suínos, como China, Brasil, Argentina, Coreia do Sul e Japão, anunciaram a suspensão das importações, até que se esclareça a dimensão do problema.

“Por enquanto, os produtos de risco [carne in natura e semi-processada] não serão mais importados para o Brasil”, disse o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, José Guilherme Leal, em entrevista exclusiva ao Canal Rural. “Eles vão ter que explicar como está a biossegurança das unidades industriais, para que a gente possa avaliar a retirada da suspensão”, completou.

Leal destaca que trata-se de uma medida preventiva, visando proteger a condição sanitária do Brasil, que é livre de peste suína africana, e do continente. “A parte da genética é muito bem controlada, há uma situação quarentenária. Os produtos para consumo, quando tem risco, como agora, são suspensos. E há a preocupação da vigilância agropecuária contra o ingresso de resíduos de bordo em aeronaves”, contou.

O Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentar da Argentina (Senasa), inclusive, está analisando interromper as compras de outros países da Europa. “Da mesma forma, analisa-se a suspensão de importação dos restantes países europeus até que haja comunicado à Argentina sobre as medidas de mitigação de risco estabelecidas para esta notificação e o reforço e adaptação das ações de vigilância, de acordo com as recomendações internacionais da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE)”, disse, em comunicado.

Oportunidade para a carne brasileira

A suspensão das compras de produtos da Alemanha pelos países asiáticos pode acabar favorecendo as carnes brasileiras, que ganharam bastante espaço após a peste suína africana afetar a produção da China. A avaliação é da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

O presidente da entidade, Ricardo Santin, afirmou em entrevista ao Canal Rural, que o Brasil tem capacidade de atender ao aumento da demanda externa sem prejudicar os consumidores internos. “Nos primeiros oito meses do ano, as exportações aumentaram 44% em volume. Mas não diminuíram a disponibilidade do mercado interno. Então, o Brasil tem condições, sim, se for chamado, de aumentar um pouco mais a sua produção, sem prejudicar nosso mercado interno”, analisou.

O suinocultor está pronto para mais esse desafio, segundo o presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio de Lorenzi. “Estamos preparados. O nosso modelo de integração, seja nas cooperativas ou nas indústrias, faz com que consigamos nos adaptar muito rapidamente para atender as exigências desses novos mercados”, disse.

No entanto, de acordo com o analista Fernando Iglesias, da consultoria Safras & Mercado, as exportações de suínos por parte do Brasil não devem aumentar expressivamente. “O que impediria o Brasil de exportar lotes ainda mais expressivos de carne suína ao mercado chinês é a questão da ractopamina, que é uma suplementação usada no desenvolvimento dos animais, que não é bem vista pelo mercado de maneira geral. Para que o Brasil consiga exportar volumes ainda maiores, seria necessário que novas unidades fossem habilitadas, sendo que as que já estão habilitadas hoje já operam perto da capacidade máxima, e não têm condições de expandir os volumes exportados no momento”, disse.

Fonte:Canal Rural / Foto:Divulgação