Secretário de Saúde de Salvador relata a “pressão praticamente desumana” que sofreu ao enfrentar a maior pandemia dos últimos 100 anos
A 52 dias para deixar a Secretaria de Saúde de Salvador, Leo Prates revela ter sentido uma “pressão que foi praticamente desumana” ao enfrentar a maior pandemia dos últimos 100 anos. Prates, que sairá da pasta municipal no dia 30 de março para ser candidato a deputado federal, relata que precisou fazer uso de remédios contra a ansiedade durante a crise sanitária da Covid-19.
“Eu acredito que o mais difícil foi lidar com as pressões. Pressão por atendimento, pressão psicológica de enfrentar um momento tão conturbado. Lidar com a pressão que foi praticamente desumana em muitos momentos. Graças a Deus não aconteceu, mas, em muitos momentos, o colapso esteve próximo. Tive que lidar com a ansiedade na segunda onda. Eu nunca tomei remédio para a ansiedade e tive que tomar. Acordava 2 horas da manhã preocupado com a escala de médico”, confidencia.
Prates conta que trabalhou em média 12 horas por dia, mas, em determinadas ocasiões, estendeu a agenda até 16 horas. O secretário diz que perdeu no total 19kg na crise sanitária. No início, fez uma dieta para cuidar da saúde, o que fez emagrecer 8kg. No entanto, perdeu mais 11kg por causa da pressão. Ele não escondeu que pensou em deixar o cargo. “Em vários momentos, todo mundo é humano”, afirma ele.
O secretário diz que foi difícil conviver com as duras críticas nos quase 33 meses que terá comandando a pasta, quando entregar em março. “Não é fácil ver críticas quando você está fazendo o seu máximo. Todo mundo esquece que o sistema público tem um limitador que é a questão financeira e tem a limitação da questão profissional. Uma coisa que me incomoda muito, apesar de ser muito resiliente da prática política, é você acompanhar desde as 4h da manhã, quando sai o primeiro boletim de regulação, até 11h e 12h da noite, e a gente acordar apanhando de manhã no jornal. É bem difícil”, declara.
Leo Prates afirma ter vivido dois momentos que o deixaram abatido. O primeiro foi em maio de 2020, quando os seus dois filhos, duas irmãs e os cunhados testaram positivo para Covid-19. Por conselho da esposa, a sanitarista Ana Paula, Prates foi morar em um hotel na Avenida Tancredo Neves. “Eu me lembro da gente sentado na cama no apartamento que a gente morava e ela dizendo: ‘a gente não sabe o que vai acontecer. Não vamos deixar os meninos sozinhos. Você tem uma missão maior. Você sai de casa e eu fico aqui com meninos’”, conta.
O segundo momento que o abateu foi também em 2020 quando ficou fora das eleições. Prates era cotado para ser candidato a vice-prefeito na chapa de Bruno Reis (DEM/União Brasil). “Tive uma das conversas mais duras com (ACM) Neto. Ele me disse: ‘você faz o que quiser, mas eu acho que você vai ficar mal com a cidade (se sair da secretaria para ser candidato). Você é um cara novo’. E agradeço muito o conselho de Neto naquele período, mas não vou me mentir. Foram dois momentos que eu me abati muito, chorei muito”, diz.
Prates assumiu a Secretaria de Saúde no dia 9 de julho de 2019, a convite do então prefeito ACM Neto (DEM/União Brasil). Na época, ele jamais imaginou que enfrentaria uma pandemia. Hoje, o secretário afirma que, se soubesse, não aceitaria a proposta. “Quando eu fui para a Saúde alguns vereadores amigos me disseram: ‘você vai se enterrar na Saúde’. Faltam 52 dias para eu sair e eu continuo de pé. Sou igual a bambu, envergo, mas não quebro. E eu acho que saio com o reconhecimento das pessoas. Não quer dizer que acertei sempre, mas que eu procurei sempre acertar”, pontua.
Engenheiro por formação, o secretário diz que precisou “ler muito, ouvir muito e se preparar muito” neste período. O primeiro livro sobre a área, segundo ele, ganhou do ex-secretário de Saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas.
Apesar de todas as dificuldades, Prates afirma que deixará o cargo mais “maduro” e com “conhecimento grande” do sistema de saúde. “Do ponto de vista profissional, foi o que mais me realizou. Tive a oportunidade de ajudar muita gente, de mostrar que estava preparado para enfrentar qualquer desafio porque não existe maior desafio do que estar em uma Secretaria de Saúde em plena pandemia. Tive a oportunidade de mostrar o meu valor”, avalia.
“Eu saio maduro, com conhecimento grande. Ainda tenho muito a aprender, mas tenho um conhecimento grande do sistema de saúde público e também privado. Saio também mais preparado emocionalmente. Dificilmente na minha vida, eu passarei por momentos tão difíceis e que me colocaram tão a aprova”, diz ele. “Agora, estou rezando para acabar logo. Já dei minha contribuição, já enfrentei três ondas”, conclui.