Curso é a encruzilhada entre as filosofias Iorubá, Indígena e Hindu.
Em cada encruzilhada soteropolitana, um ebó transdisciplinar de culturas que compõem os corpos memórias de cada cidadão desta cidade. É pensando nesta composição de tradições culturais amalgamadas que, o projeto Arte Milenar – Acessando o Passado para um Futuro brilhante, irá ocupar nos meses de março de abril de 2024, o Centro Estadual de Educação, Inovação e Formação da Bahia Mãe Stella (CEEINFOR), localizado no bairro do Cabula, com oficinas de teatro, dança afro, práticas de Yoga, filosofias culturais e muita história, abertas a estudantes, familiares e comunidade.
Idealizado pelo professor de yoga, de artes cênicas e mediador cultural Indra Carvalho, o Arte Milenar é um estudo transdisciplinar sobre o corpo e corporeidade através de práticas decoloniais, concentrando-se no encruzilhar de três filosofias fundamentais: a indígena, a yorubá e a hindu. Um bailar ritualístico de ritmos, danças e histórias, para o despertar de memórias que compõem nossos corpos. Vale lembrar que, o nome do bairro é inspirado no toque angola Cabila/Kabula, que dá origem ao samba de roda.
O projeto iniciará com atividades de sensibilização voltadas a toda comunidade do Cabula e regiões adjacentes, com aulas abertas e gratuitas nos dias 11, 13 e 15 de março, às 14h, a serem ministradas por Indra Carvalho, Rubens Celestino, Taquari Pataxó, Mona Nascimento e o babalorixá Wilson de Ogum. Os interessados só precisam chegar ao CEEINFOR.
“É um convite para que estudantes, familiares e comunidade percebam que corpo tem memória e fala. Uma encruzilhada pedagógica para apreciação mais profunda da nossa historicidade, para a apropriação e percepção do próprio corpo”, ressalta Carvalho, ao acrescentar que as aulas abertas estão sujeitas a lotação.
O Arte Milenar é um convite aos estudantes para perceber que nossos corpos possuem memórias e falas expressivas. Corpo ancestralidade. Após as aulas abertas, o projeto será direcionado a 15 estudantes do CEEINFOR, com práticas que ocorrerão de 18 de março a 16 de abril, ministradas pelo professor Indra Carvalho e professores convidados: os coreógrafos e bailarinos
Paco Gomes e Tati Campêlo, que desenvolvem pesquisas em Dança afro.
Os componentes a serem lecionados são: Estudo de Epistemicídio e Etnocentrismo; Teatro Ritual; Prática de Yoga; Práticas Corporais para o Teatro Ritual; Estudo do Simbolismo Hindu, do Iorubá; Leitura Dramática com textos de Rito; e Estudo Griot. Ao fim dos encontros educativos, ocorrerá uma mostra didática com um espetáculo teatral protagonizado pelos alunos, com apresentações nos dias 20 e 25 de abril, no CEEINFRO e no Teatro Gregório de Mattos, respectivamente. O projeto emitirá certificado assinado pela Universidade Federal da Bahia e Prefeitura de Salvador.
O Arte Milenar entende o corpo como uma encruzilhada, um ponto onde se cruzam caminhos e perspectivas. O subtítulo é “Entendendo o passado para um futuro brilhante”, colocado exatamente para fortalecer a ideia de que as nossas memórias corporais, transpassadas por diferentes linguagens, propondo uma maior compreensão de si para ações cotidianas mais conscientes, construindo assim um futuro coerente.
“Queremos através desta formação oferecer uma educação decolonial e transdisciplinar, e possibilitar que os partícipes estejam mais conscientes das suas memórias e corporeidades. O objetivo é fomentar nas escolas públicas e periféricas um ensino cada vez mais coerente com as culturas yorubá, indígena e hindú. Um projeto em que os estudantes e comunidade se sintam livres e acolhidos para aprenderem e se expressarem sem medo, tudo isso com uma equipe de excelência com reconhecimento no território nacional”, destaca o idealizador.
Arte e Vida
O projeto começou a ser sistematizado no ano de 2017, por Indra Carvalho, e suas primeiras pesquisas ocorreram em atividades pedagógicas executadas em Belém, depois Salvador, Belo Horizonte e recentemente em Brasília. Mas, o professor de Yoga e de Artes Cênicas fala que, “desde o meu nascimento estou inserido em um lugar onde o rito e a filosofia ancestral são fomentados na prática, numa meditação, numa reza, em orações aos ancestrais, em uma prática de japamala (Rosário Hindu com 108 contas), ou com banhos de folhas de minha mãe”.
É neste encruzilhar de filosofias que ele idealiza o Arte Milenar. “Acredito na importância da abordagem transdisciplinar, na qual as fronteiras entre as disciplinas são dissolvidas, criando espaços para novas formas de refletir e produzir conhecimento. Foi a forma que encontrei para aniquilar o epistemicídio destas culturas e reivindicar a valorização e o reconhecimento desses conhecimentos como fundamentais e relevantes, em contraposição à primazia de paradigmas e perspectivas eurocêntricas violentamente dominadoras”, constata Indra Carvalho.
O Arte Milenar – Acessando o Passado para um Futuro Brilhante é contemplado pelo edital Territórios Criativos, com recursos financeiros da Fundação Gregório de Mattos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Prefeitura de Salvador, e da Lei Paulo Gustavo, Ministério da Cultura, Governo Federal.