Redução do Número de Crianças nas Escolas de Utinga: Reflexo da Queda na Natalidade?

A educação em Utinga tem enfrentado um desafio crescente nos últimos anos: a redução significativa no número de matrículas escolares. Os dados do Educacenso de 2010 a 2024 mostram um declínio contínuo no total de alunos matriculados, refletindo mudanças no perfil demográfico do município.

Em 2010, Utinga contava com 4.331 alunos matriculados nas diferentes etapas da educação básica. Esse número caiu para 3.192 em 2016 e, mais recentemente, para 2.155 em 2024. Em apenas 14 anos, o município perdeu mais da metade de seus alunos, sem que haja nenhum aluno em idade escolar, fora das salas  de aulas. 

Esse fenômeno pode ser explicado, em grande parte, pela queda na taxa de natalidade. As famílias estão tendo menos filhos ou, em alguns casos, optando por não ter filhos. Esse comportamento está alinhado a uma tendência nacional, na qual fatores como mudanças no estilo de vida, planejamento familiar mais consciente e dificuldades econômicas influenciam diretamente na decisão de ter filhos.
Esse fenômeno já foi vivenciado por diversos países, inclusive na Europa. O envelhecimento da população, a inversão da pirâmide demográfica que gera impactos na vida econômica e também na Previdência social . 

O ex-prefeito de Utinga, Joyuson Vieira, que acompanha de perto a evolução dos dados demográficos do município, destaca a importância de analisar esses números com atenção:

“Esse fenômeno não acontece apenas em Utinga, mas em diversos municípios do interior da Bahia e até na Capital, onde a população também diminuiu no último censo do IBGE. A queda na taxa de natalidade é um fator determinante, mas também precisamos considerar o êxodo de famílias para outras regiões em busca de melhores oportunidades. Esse movimento impacta diretamente nossas escolas e exige que a gestão pública, municipal, estadual e federal pensem em estratégias para se adequarem a essa nova tendência.”

O impacto dessa redução vai além das escolas. Com menos crianças nascendo, as cidades podem enfrentar desafios no futuro, como a diminuição da população economicamente ativa e a necessidade de repensar políticas públicas voltadas à juventude. Além disso, a redução de alunos pode comprometer a manutenção de algumas unidades escolares, a distribuição de recursos e até a oferta de turmas. Uma necessidade urgente, segundo Vieira, é a implantação da Universidade da Chapada para qualificar melhor os estudantes egressos do ensino médio e o fortalecimento das atividades vocacionais do seu povo, mormente o turismo e a agricultura, esta última, asfixiada pela ausência de investimentos estaduais e federais, mormente a tão prometida e esperada perenização do Rio Utinga, através de barragens adequadas. 

O atual prefeito Átila Karaoglan reforça a necessidade de medidas estratégicas para enfrentar o cenário:

“A educação é prioridade para nossa gestão, e estamos atentos a essa mudança no perfil populacional. Precisamos investir não apenas na qualidade do ensino, mas também em políticas que incentivem as famílias a permanecerem em Utinga, oferecendo melhores condições de trabalho, moradia e acesso a serviços públicos. O fortalecimento da economia local pode ser um caminho para garantir que nossos jovens continuem crescendo e estudando aqui.”

A tendência de queda nas matrículas não é isolada, mas uma realidade que precisa ser debatida. Investir em políticas que incentivem a permanência das famílias no município e garantam suporte às que desejam ter filhos pode ser essencial para reverter esse cenário. Utinga está mudando, e a educação é um reflexo direto dessa transformação.