Uma trajetória marcada pela superação. Mulher, negra e nordestina, a advogada e atual presidente da Comissão Nacional de Promoção da Igualdade, Silvia Cerqueira teve que superar um sem fim de obstáculos para chegar onde chegou. Apontada como uma das candidatas em potencial a uma vaga no Supremo Tribuna Federal (STF), Dra. Sílvia pode se tornar a primeira negra num tribunal composto por apenas duas mulheres entre 11 ministros, sendo todos brancos.
“Em 1978 quando me graduei como Bacharel em Ciências Jurídicas pela UCSAL (Universidade Católica do Salvador), a advocacia era essencialmente machista, elitista e branca. Nesse contexto ser mulher advogada negra, fugia a todos os requisitos exigidos para exercê-la, enquanto carreira considerada nobre ao lado da Medicina e da Engenharia”, explica a jurista.
Conselheira federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Silvia Cerqueira vê como “um grande desafio” a possibilidade de assumir uma cadeira na Suprema Corte:
“Representa uma grande responsabilidade, tendo em vista que hoje a nossa caminhada não decorre de uma vontade pessoal e isolada, o que não deixaria de ser legítimo. Ao aceitar o desafio o fiz também, com a consciência de que somos mais de 50% da população brasileira de pretos e pardos, segundo o IBGE, e que fazemos parte de um povo diverso, porém, só figuramos em maioria nos altos índices de analfabetismo, na população carcerária do país e no desemprego. É evidente que como somos construtores também da nação, precisamos sair urgentemente das estatísticas negativas e sermos partícipes de uma outra história promissora, e por isso é importante pavimentarmos essa nova caminhada nos colocando como exemplos para os nossos jovens negras e negros”
Ainda segundo a jurista, sua indicação pode ser encarada como uma “reparação histórica”:
“Apesar das desigualdades, através das políticas de ações afirmativas a exemplo das cotas raciais nas universidades e no serviço público que já nos dão uma sinalização concreta de grandes transformações sociais, provando que as oportunidades e o livre acesso de todos independe de raça, sexo, religião, etnia ou etarismo, haja vista que poderão ocupar os espaços que desejaram”.
“Compreendo que a chegada de mulheres negras nas cortes do país, significa rechaçar a vinculação do feminino com a subalternização, da cor da pele com a inferioridade. É desvincular o nordeste da dita “incapacidade intelectual”. Significa efetivar a resolução nº 255 /2018 que estabelece a Política Nacional de Incentivo e Participação Feminina, firmando a igualdade de gênero no ambiente institucional com o objetivo de assegurar o nosso sentimento de pertença bem como para os jurisdicionados, no sentido de que os mesmos se reconheçam nas Côrtes; considerando que no país apenas 12,8% de magistrados são negros. É garantir o cumprimento da Resolução nº203/2015 que assegura reserva de vagas para
negros, nos concursos públicos para a magistratura”, completa.
“É preciso enxergar um novo tempo pavimentado pelos nossos ancestrais, para afirmarmos
num bom tom. Sim nós podemos e chegamos!”, finaliza.