O dólar disparou nesta segunda-feira, com o mercado reagindo mal à definição pelo governo de que o Renda Cidadã será custeado por recursos que não virão de cortes de gastos, o que abalou a confiança de investidores numa agenda de redução de despesas que poderia conter a deterioração em curso das contas públicas –considerada o mais grave problema macroeconômico do Brasil.
O dólar à vista fechou em alta de 1,46%, a 5,6351 reais na venda. É o maior patamar desde 20 de maio (5,6902 reais), período no qual a moeda vinha batendo sucessivos recordes.
No dia 13 daquele mês, a cotação fechou em 5,9012 reais, máxima histórica nominal para um encerramento de sessão no mercado spot.
Na mínima deste pregão, a moeda chegou a 5,5145 reais, queda de 0,71%.
Em pronunciamento no intervalo de uma reunião no Palácio da Alvorada comandada pelo presidente Jair Bolsonaro, com a presença de ministros e líderes do Congresso Nacional, o senador Marcio Bittar(MDB-AC) disse que o Renda Cidadã será custeado com recursos para precatórios e com verbas do próprio Bolsa Família, que será extinto, e do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb).
Ele destacou que houve um “consenso” e que o presidente deu sinal verde para fechar a proposta para o programa, que substituirá o Bolsa Família.
O que mais repercutiu negativamente no mercado foi o uso dos precatórios –dívidas reconhecidas pela União. Na prática, o governo vai retirar uma parcela desses recursos para bancar o novo programa.
Bruno Dantas, ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), comentou no Twitter que o uso dos precatórios parece “truque para esconder fuga do teto de gastos”. “Reduz a despesa primária de forma artificial, porque a dívida não desaparece, apenas é rolada para o ano seguinte. Em vez de o teto estimular economia de dinheiro, estimulou a criatividade”, completou.
Entre investidores, a percepção é que o governo mostra menos apreço ao controle das contas públicas, num momento de crescente preocupação com o respeito ao teto de gastos em 2021.
Alfredo Menezes, gestor na Armor Capital, falou em “sinal muito ruim”. “Não sei como pode passar isso na cabeça de alguns (usar os precatórios)”, disse.
A pressão no câmbio, reforçada por saídas de recursos, levou o dólar a 5,6763 reais, alta de 2,21%. O Banco Central interveio com venda de 877 milhões de dólares em leilão de moeda à vista –o primeiro do tipo desde 21 de agosto–, mas o real seguiu como a moeda com segundo pior desempenho no dia, melhor apenas que a combalida lira turca.
Na renda fixa, o estresse foi ainda mais notável. O DI janeiro 2027 chegou a saltar 75 pontos-base (maior alta desde abril), para quase 8%, quatro vezes a Selic atual (2% ao ano). O DI janeiro 2025 disparou 74 pontos-base na máxima sobre o ajuste anterior.
Fonte:Reuters / Foto:Reprodução