Sem cargo, Moro recua nas redes, Bolsonaro retoma topo, e Huck avança ao falar de pandemia

Durou pouco a ascensão da popularidade digital de Sergio Moro puxada por sua saída do governo Jair Bolsonaro. O ex-ministro da Justiça, que chegou a ultrapassar o presidente no quesito, derreteu rapidamente e abriu caminho para o antigo chefe retomar a dianteira.

Aferido pela consultoria de dados Quaest, o vaivém nas redes sociais mostra que o ex-juiz perdeu mais de 50% da influência alcançada em meio à demissão e às acusações contra Bolsonaro (sem partido), que continua como líder isolado desde o início do levantamento, em janeiro de 2019.

O chamado IPD (Índice de Popularidade Digital), com pontuação que varia de 0 a 100, é medido pela empresa a partir de dados de Twitter, Facebook e Instagram, além de YouTube, Google e Wikipédia. Com as informações, a Quaest gera uma classificação diária.

Como a Folha mostrou, Moro interrompeu uma tendência de baixa e disparou no ranking ao deixar o cargo, no dia 24 de abril. Bolsonaro, ao mesmo tempo, despencou.

No dia 28, ainda sob o impacto de sua afirmação de que o presidente tentou interferir na Polícia Federal, o ex-ministro atingiu a nota 62,8, à frente dos 61,5 pontos do presidente.

O cenário foi considerado significativo porque demonstrou um inédito enfraquecimento de Bolsonaro, que perdeu seguidores na época e se viu mais próximo de outros nomes do universo político cujo desempenho é analisado pelo IPD, como o ex-presidente Lula (PT) e o apresentador Luciano Huck (sem partido).

Daí em diante, contudo, a trajetória se inverteu: Moro começou a perder relevância e Bolsonaro reconquistou espaço, abrindo larga vantagem. O cenário se manteve até a última terça-feira (19), segundo os dados mais recentes do IPD —nesse dia, o ex-juiz teve pontuação 26,8, e o presidente, 66,2.

O ex-magistrado é cobiçado por pelo menos quatro partidos políticos e poderá concorrer ao Planalto em 2022, mas não indicou ainda se entrará na disputa. Seu descolamento de Bolsonaro provocou um racha na base de apoiadores que eles tinham em comum.

O pico em abril chamou a atenção por dois fatores: o ex-juiz de Lava Jato tinha até então uma presença discreta em seus perfis no Twitter e no Instagram, que são mantidos sem gestão profissional, conforme a Quaest. Além disso, ele não possui conta em plataformas como YouTube e Facebook.

O IPD é calculado com base em seis aspectos, entre eles: mobilização (total de compartilhamentos de conteúdos), interesse (buscas por informação no Google e na Wikipédia), presença digital (número de redes sociais ativas) e fama (público total nas redes).

As outras duas dimensões avaliadas são: engajamento (volume de reações e comentários ponderado pelo número de postagens) e valência (proporção de reações positivas e negativas). O indicador compara o desempenho do que é produzido pelos políticos e as respostas ao conteúdo.

Segundo os organizadores do ranking, Moro registrou declínio, principalmente, no tópico interesse. “Houve uma frustração dos seguidores quanto aos fatos e provas que eles esperavam que Moro trouxesse à tona, corroborando sua fala anterior contra Bolsonaro”, diz Felipe Nunes, CEO da Quaest.

O analista, que também é professor de ciência política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), afirma que os posts do ex-ministro até trazem posicionamentos, “mas não entregam nada de novo, aí ele passa como se fosse irrelevante e tende a perder expressividade ao longo do tempo”.

E completa: “Moro saiu dos holofotes e terá dificuldade de se manter em evidência sem cargo, sem uma função pública”.

Bolsonaro, por outro lado, mantém um alcance incomparável com sua estratégia de polemizar e difundir fatos novos praticamente todos os dias, na visão de Nunes. “Esse protagonismo não é fruto apenas do fato de ele ser o principal ator político do nosso sistema, mas se deve à sua habilidade para engajar.”

A média do presidente no IPD é 77,7. Em uma análise mais ampla, contudo, ele tem enfrentado uma piora no critério valência. “O que ele produz tem tido ao longo do tempo cada vez mais reações negativas, acompanhando o que as pesquisas de opinião mostram sobre sua aprovação”, observa o CEO.

A liderança de Bolsonaro no monitoramento só foi ameaçada em momentos pontuais. Assim como aconteceu com Moro, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta chegou a se aproximar da pontuação do antigo chefe ao sair da cadeira e romper com o Planalto, mas acabou murchando.

O mesmo ocorreu com os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC). “Bolsonaro, mesmo em meio ao agravamento da crise do coronavírus, continua imbatível na esfera digital. A grande capacidade dele é a de se manter em alta”, comenta Nunes.

Outro que esteve perto de ameaçar o líder foi Huck, que desbancou Bolsonaro em dezembro, mas depois caiu. De um mês para cá, no entanto, o possível presidenciável ganhou fôlego. O movimento coincide com o aumento de suas postagens sobre temas do noticiário, como a pandemia e o adiamento do Enem.

Huck, lembra o coordenador do índice, já possui fama na internet, com contas ativas e abastecidas várias vezes ao dia, mas passou a experimentar um aumento de mobilização e engajamento de sua base. No início da crise do coronavírus, ele falou pouco sobre a doença e colheu resultados irregulares no ranking.

Na terça (19), o comunicador teve pontuação 47,9, o que o posicionou no segundo lugar, atrás do atual presidente da República, mas à frente de Lula, que alcançou 30 pontos. A performance de Huck costuma também registrar picos aos sábados, quando vai ao ar seu programa na TV Globo.

Folhapress