A Secretaria de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ), promove, até esta segunda-feira (19), uma capacitação para identificação de mulheres vítimas de violência. Nesse período, 50 colaboradoras das unidades da Prefeitura-Bairro de Salvador participam do treinamento. O curso integra o programa Alerta Salvador, que tem como objetivo a mobilização da sociedade pela erradicação da violência doméstica contra a mulher.
A proposta do treinamento é formar multiplicadores que atuarão como pontos-focais no intuito de identificar mulheres vítimas de violência e encaminhar para um dos centros de referência à mulher do município. De acordo com a titular da pasta, Fernanda Lordêlo, as Prefeituras- Bairro são a porta de entrada das comunidades – atendem, em média, 2 mil pessoas por semana – e é muito mais fácil a identificação local e regional dessa situação de violência pela equipe, aproveitando o momento em que as mulheres são atendidas para outros serviços.
“Então, essas colaboradoras que estão sendo capacitadas receberam formulários e informações do que devem e não devem perguntar para identificar efetivamente as possibilidades de essa mulher estar numa situação de agressão. Em seguida, vamos poder direcionar as vítimas aos equipamentos municipais especializados no enfrentamento da violência doméstica e familiar contra mulher”, explicou.
Identificação – A diretora de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude da SPMJ, Fernanda Maria Cerqueira, destacou a importância da identificação e diagnóstico desse problema. “As pessoas não compreendem que a agressão contra mulher vai além da violência física e sexual. Estas são as mais fáceis de serem visualizadas porque elas deixam marcas e, realmente, a mulher se sente aviltada em razão de que o seu corpo, a sua liberdade sexual está sendo violada. Mas as violências que não aparecem, mas que são muito comuns, são a psicológica e patrimonial, por exemplo”, disse.
“Você é feia”, “você não serve”, “sua comida é ruim”, “só eu te amo”, “ninguém mais vai te querer”, “se eu te largar você não vai arrumar mais ninguém”. Estas são situações onde a violência psicológica coloca a mulher numa teia de dependência emocional. “As humilhações são constantes, o homem verbaliza, proferindo falas que vão minando a autoestima da mulher”, pontuou a diretora.
Já a violência patrimonial é quando o homem interfere diretamente na renda da mulher e família. “No momento em que ele toma o cartão do Bolsa Família, faz compras no cartão de crédito e ao final do mês não paga e essa mulher acaba ficando endividada, isso abala efetivamente a estrutura familiar”, completou Fernanda Cerqueira.
Capacitação – A atendente da Prefeitura- Bairro Centro, Neijiane Dias, 32 anos, destacou a importância do projeto. “Eu estou achando excelente a iniciativa. É um treinamento extremamente significativo. A gente já vinha percebendo que somos uma porta de entrada dessas mulheres vítimas de violência, que muitas vezes não sabem para onde ir, quem procurar, o que fazer. Com essa capacitação, a gente vai conseguir perceber e ajudar muitas delas e contribuir para erradicar essa problemática que infelizmente faz parte da nossa sociedade”, disse.
Um dia após a capacitação, a atendente da Prefeitura-Bairro Pau da Lima, Diana Paixão, de 34 anos, identificou um caso de violência doméstica e encaminhou a vítima para o acolhimento. “Foi muito especial. Se eu não tivesse tido o treinamento, com certeza, não saberia como ajudá-la da forma correta. Eu, como mulher, como mãe, se alguém chegasse até a mim, para passar uma situação de violência, iria levar para o lado emocional e não saberia como agir. Depois do curso soube exatamente o que fazer e o resultado foi positivo”, disse.
Próxima etapa – Após as capacitações, em um segundo momento, a equipe fará reuniões com administradoras de condomínio. A intenção é alertar síndicos e demais administradores de residenciais sobre a importância da lei 14.278, que obriga os condomínios residenciais do Estado da Bahia a comunicar ocorrência de casos de violência doméstica e familiar contra mulheres, crianças, adolescentes ou idosos.
Centros de referência – Em Salvador, as mulheres vítimas de violência podem contar com apoio psicossocial e jurídico em três centros de referência à mulher. Em casos que a vítima não tenha para onde ir, após a denúncia, ela é acolhida no Centro de Atendimento à Mulher Soteropolitana Irmã Dulce (Camsid), que funciona 24h na Ribeira. O telefone é o (71) 3611-6581.
De segunda a sexta-feira, as mulheres podem recorrer ao Centro de Referência de Atendimento à Mulher em situação de Violência Loreta Valadares (CRAMLV), nos Barris, através do (71) 3235-4268 para agendar um atendimento presencial e, caso prefira, o teleatendimento através do telefone (71) 99701-4675. Outra opção é o Centro de Referência Especializado de Atendimento à Mulher Arlette Magalhães (Cream), em Fazenda Grande II, que pode ser acionado através do (71) 3611-5305 para agendar um atendimento presencial, ou pelo telefone (71) 98791-7817 para teleatendimento.
“As casas de acolhimento da Prefeitura estão preparadas para receber essas mulheres, em caso de direcionamento, para que sejam atendidas por equipes multidisciplinares, compostas por psicólogos, assistentes sociais e advogados, e em casos mais delicados, até um acolhimento provisório, através do Camsid”, afirmou a secretária da SPMJ.
Foto: Jefferson Peixoto/ Secom_Pms