Surto viral mata cavalos na Europa e acende alerta entre criadores

O patógeno EHV-1, que geralmente tem efeitos brandos, também causou abortamentos e danos em órgãos internos em animais

Criadores de cavalos da Europa estão temerosos. Em fevereiro, durante uma competição internacional em Valência, na Espanha, houve um surto vital e dezenas de cavalos e éguas apresentaram fraqueza e comportamento irritadiço.

De acordo com reportagem da revista Science, de lá para cá, pelo menos 17 equinos morreram, algumas fêmeas abortaram e animais passaram por cirurgias para reparar danos em seus órgãos internos.

A identificação do vírus, conhecido como herpesvírus equino tipo 1 (EHV-1, sigla em inglês), talvez tenha vindo tarde demais, pois mais de 600 animais expostos a ele já tinham retornado aos seus países.

Sem outra alternativa, a FEI, que supervisiona as competições internacionais, cancelou todos os eventos europeus, inclusive a Copa do Mundo, até meados de abril. Já os criadores estão tentando vacinar os cavalos e isolar os animais contaminados.

Cavalos muito doentes

O hospital para equinos da Universidade CEU Cardeal Herrera, vizinha ao local das provas, logo ficou lotada de animais doentes. Segundo a médica veterinária Ana Velloso Álvarez, profissionais atendiam até 20 animais simultaneamente, muitos deles içados em fundas.

O que chama atenção dos pesquisadores é que o EHV-1, geralmente, não causa efeitos tão devastadores. Diante disso, alguns se perguntam se remédios ou a própria vacina contra o vírus podem ter provocado essa reação mais forte.

“Nossa prioridade deve ser lidar com o impacto imediato desse terrível vírus”, disse Göran Åkerström, diretor veterinário da Federação Internacional de Esportes Equestres (FEI), à revista Science. “Mas, também é crucial que expandamos nossos dados epidemiológicos”. Um grupo de trabalho especial da FEI para estudar o surto teve sua primeira reunião em 18 de março.

Geralmente, menos de 15% dos equinos infectados pelo EHV-1 apresentam sintomas neurológicos. Porém, cerca de 40% dos cavalos que adoeceram em Valência apresentaram danos, segundo Ana.

Os sintomas variavam de animal para animal. Alguns tiveram coágulos sanguíneos intestinais e precisaram de cirurgia. Outros tinham as pernas inchadas, andavam como se estivessem bêbados ou exibiam um comportamento incomum. “Isso é completamente diferente do que estamos acostumados [com o EHV-1]”, afirmou a veterinária.

Os cientistas estão debruçados sobre o caso tentando entender fatores que podem ter influenciado nesse grave surto viral. Enquanto isso, os proprietários europeus seguem em alerta.

O que é EHV-1 e esse vírus está presente no Brasil?

No mundo, há pelo menos 14 espécies de herpesvírus que atingem cavalos. O tipo 1 (EHV-1) e o tipo 4 (EHV-4) são os mais comuns. Eles causam abortamentos, mortalidade neonatal, doenças respiratórias e manifestações neurológicas em cavalos.

A transmissão se dá pela inalação de aerossóis vindos de secreções respiratórias de animais infectados em fase aguda, fômites, através de objetos, materiais de montaria. O vírus também pode ser transmitido no manejo por meio dos tratadores – mas não se trata de uma zoonose, não causando doenças em humanos -, água e alimentos contaminados.

No Brasil, o primeiro relato de infecção por EHV-1 ocorreu em 1966 a partir de um feto abortado. Já o primeiro caso de isolamento de um cavalo com doença neurológica ocorreu em 2005.

Diante do surto na Europa, criadores brasileiros também ficaram alertas. A Sociedade Hípica Paulista decidiu vacinar todos os cavalos que estavam nos estábulos da entidade na semana passada.

“Quanto melhor vacinados estiverem os animais, ou seja, tendo suas vacinações em dia contra a apresentação ‘corriqueira’ do EHV-1 (respiratória), menos vírus circulante, assim sendo, menores são as chances de mutação do vírus”, comunicou.

Fonte:Canal Rural / Foto: Ana Velloso Álvarez