RIO DE JANEIRO (Reuters) – Uma volta presencial às aulas nas escolas do país sem que a epidemia de coronavírus esteja controlada será uma ameaça a mais de 9 milhões de pessoas do grupo de risco que moram com estudantes, alertou nesta quarta-feira a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que já se posicionou contra um retorno considerado prematuro dos estudantes às escolas.
Segundo a Fiocruz, estariam em perigo 9,3 milhões de brasileiros adultos com problemas crônicos de saúde e idosos que vivem na mesma casa que crianças e adolescentes em idade escolar (entre 3 e 17 anos). Tanto os idosos como os doentes crônicos estão no grupo de maior risco de sofrer as formas mais graves da Covid-19, a doença respiratória provocada pelo novo coronavírus.
De acordo com a Fiocruz, São Paulo é o Estado com maior número de adultos com comorbidades e idosos morando com estudantes, com 2,1 milhões de pessoas nessas condições. Logo depois vêm Minas Gerais (1 milhão), Rio de Janeiro (600 mil) e Bahia (570 mil). O Rio Grande do Norte é o que possui a maior percentagem da população nesses grupos: 6,1% do total.
O estudo apontou que 3,9 milhões de adultos com idade entre 18 e 59 anos com diabetes, doença do coração ou doença do pulmão residem em domicílio com pelo menos um menor em idade escolar. Já a população idosa (60 anos e mais) que convive em seu domicílio com pelo menos um menor em idade escolar chega a quase 5,4 milhões de pessoas.
O pesquisador da Fiocruz Diego Xavier alertou para o perigo que pode representar essa volta às aulas para pessoas do grupo de risco.
“Essa população adulta e idosa provavelmente vai demandar atendimento com tratamento intensivo. Se criarmos um cenário em que 10% dessa população venha a necessitar desses recursos, estamos falando de 900 mil pessoas, e considerando a taxa atual de letalidade do país, isso representaria 35 mil óbitos a mais nos próximos meses”, disse.
A Fiocruz ressaltou que as crianças e adolescentes vão correr riscos de contrair a doença desde o transporte até o interior da escola, seja particular ou pública. A instituição já havia alertado recentemente que o retorno das atividades escolares deve estar pensado “após o controle no número de casos novos e óbitos, quando todas as demais atividades já estiverem funcionando”.
Ao menos nove Estados e o Distrito Federal discutem retomar as aulas na rede pública nos próximos dois meses, segundo levantamento feito pelo portal G1 junto às secretarias estaduais de Educação na segunda-feira.
O Estado de São Paulo, que concentra o maior número de casos e de óbitos pela Covid-19 no país, planeja retomar as aulas em setembro, enquanto a prefeitura do Rio de Janeiro autorizou as escolas particulares a receberem alunos de quatro anos do ensino fundamental a partir de 3 de agosto.
Fonte:Reuters / Foto:REUTERS/Adriano Machado