“Acredite nos seus sonhos brother/ Insista / Falaram pra gente que não era possível / Se começar foi fácil, difícil vai ser parar”
(Pescador de Ilusões – O Rappa)
José Ribeiro, “Zé Cocada” ou somente “Zé Ribeiro”, 46 anos, é nascido e criado no bairro da Engomadeira, mais precisamente entre a Vila Dois Irmãos e Tancredo Neves. Como qualquer criança oriunda dos chamados bairros periféricos da cidade, foi obrigado a desde cedo conviver com as adversidades impostas, sobretudo, pela falta de oportunidades.
“Cresci aqui e desde pequeno vi muita coisa acontecer. Graças Deus fui poupado por Deus. Muitos dos meus colegas morreram”, conta José, que almejava se tornar jogador de futebol. “O Corinthians veio me buscar em casa na época, mas minha mãe não me deixou ir. Já foi considerado o melhor lateral direito do Cabula!”, conta orgulhoso. Deus escreve certo por linhas toras, diz o ditado. E no caso do jovem José Ribeiro, que sonhava em brilhar nos campos de futebol, foi Deus mesmo que intercedeu reservando ao garoto um futuro mais nobre.
“Ainda na juventude aceitei Cristo e passei a cuidar dos jovens aqui da comunidade. Passei a fazer eventos aqui na rua, sempre tentando afastar a juventude do tráfico de drogas”, pontua.
Desde então, José não mais parou. Tinha como missão doar parte da sua vida em prol do trabalho social. “Meu objetivo é tentar amenizar o sofrimento de algumas mães. Não deixar as crianças se envolverem com o tráfico de drogas. Temos uma área dominada pelo tráfico. Tem muitos meninos aqui que se não fosse o projeto hoje estariam perdidos com a mente voltada somente para coisa ruim”, justifica. E foi através de um sonho, no ano de 2010, que começou a ser concebido o que viria a ser o ponto culminante do seu trabalho e o divisor de água na vida de boa parte da juventude da região: o projeto “Meninos da Vila”.
“Era dezembro de 2010. Fui ao dono do terreno e disse: Irmão, Deus mandou eu comprar o seu terreno e transformar em uma obra social. Você vende? Ele me pediu 15 dias e quando passou o prazo me disse que vendia por R$60 mil. Eu disse que não tinha o dinheiro e ele então me respondeu que eu pagaria quando pudesse. Chamei a comunidade, fizemos um documento e batemos o martelo. Ainda falta eu pagar R$ 28 mil”. Na época, José, que ganhava a vida trabalhando como cobrador de ônibus e vigilante, saiu do emprego para se dedicar apenas ao Meninos da Vila e passou a viver fazendo bicos como pedreiro. Os problemas iam sendo superados na mesma medida em que iam aparecendo. José não tinha o direito de parar no meio do caminho: “Em meio as dificuldades você sempre pensa em desistir, mas Deus sempre acaba renovando nosso ânimo. As circunstâncias, às vezes, fazem com que a gente se sinta impotente. É muita falta de apoio e de investimento. Quando você pede, por envolver dinheiro as pessoas olham como desconfiança”.
Sem apoio do poder público, seja na esfera municipal ou estadual, a ajuda da Procuradora do Estado, Maria Dulce Baleeiro, que tomou conhecimento do espaço através de um morador do bairro, é vista por José como de fundamental importância para a viabilidade do Meninos da Vila.
“Foi Deus que tocou nessa moça. Ela veio aqui conhecer o projeto, e logo que viu resolveu nos ajudar. Só ela já colocou mais de R$200 mil aqui. Além dela, temos também o apoio de alguns comerciantes do bairro. Nunca tive ajuda de prefeitura e nem de governo do estado.”, frisa. E foi também através da procuradora que o projeto acabou contemplado com um aporte financeiro oriundo de uma atração global: “Ela inscreveu nosso projeto no Caldeirão do Huck. Foram 20 mil projetos inscritos, onde 100 foram separados. Os 50 que ganhassem na votação popular ganharia R$100 mil. Chegamos em sétimo lugar, em todos o Brasil”.
Com uma área de 800 m2, mesmo ainda em processo de construção, o espaço Meninos da Vila já funciona a todo vapor. No local são oferecidas aulas de futebol, ballet, boxe, informática.
“Em breve, tão logo a gente termine a construção das salas vamos lançar cursos de robótica e designer gráfico”, diz o animado líder.
Casado e pais de dois filhos, um de 20 anos e um de 10, José Ribeiro ainda alimenta um desejo, além, é claro, de ver concluída as obras do Meninos da Vila.
“Hoje, meu sonho é ver essas crianças se tornando cidadãos de bem, honrando os seus pais, constituindo família e que um dia possam olhar para trás e ao reverem suas raízes possam agradecer ao projeto”, diz Zé com os olhos já marejados, mas com a convicção e a força dos grandes homens.